11 de fevereiro de 2006

Gaste dinheiro agora. Pergunte-me como.


Desde sempre os operadores de telecomunicações são um caso típico da aplicação do princípio da Economia que diz que a diferenciação é uma excelente forma de ganhar dinheiro. Basta olhar para a complicação dos tarifários, em que os custos variam em função de ser o primeiro minuto ou os seguintes, para a própria rede ou para outra, grupos fechados de amigos, horários, dia de semana ou não, períodos de tarifação, etc. É mais complicado do que comparar o preço das laranjas em porcelana com o das operações plásticas ao nariz. Isto serve o propósito de dificultar comparações, diminuindo a concorrência. Mas, que eu saiba, não tem nada de ilegítimo ou ilegal.
Recentemente, mudei de tarifário. Pagava cerca de 100 eur/mês, por vezes mais. Agora pago 50 eur/mês. Mudei de um pré-pago para um tal de "Plano Pro 40" (40 eur+iva por mês, 500 minutos de chamadas para todas as redes em qualquer dia e horário).
Propus depois a Clientes meus, uns Vodafone, outros não, que mudassem os respectivos tarifários para o mesmo plano que eu tinha. Contas feitas, poupariam 20 a 70%, consoante o Cliente.
Não se trata aqui de ocultar informação, ou de não serem proactivos na sugestão de tarifários mais adequados, conforme dizem que são. Trata-se de pura e simplesmente recusarem a mudança de tarifário, refugiando-se em justificações surrealistas.
1. O argumento mais aceitável é, pasme-se, o argumento do medo: "Existe um contrato de fidelização; a multa por incumprimento é proibitiva". Sucede que o Cliente apenas pede a mudança de tarifário, não de operador!
2. Outro: "Isto são planos em que perdemos dinheiro. Podemos fazer o preço a um empresário em nome individual, ou microempresa, mas para empresas maiores não, porque iríamos perder muitíssimo dinheiro." O que é isto, se não uma confissão voluntária de dumping?
3. "Isto são planos que temos em carteira, mas só servem para 'roubar' clientes à concorrência". Leia-se: Um Cliente nosso que seja fiel é bem pior tratado do que quem venha da concorrência. Depois da moda das campanhas de marketing de fidelização, esta é uma clara campanha de desfidelização a) dos clientes de outros operadores, e b) dos próprios clientes - que se sentem enganados e preteridos.
4. "Não podemos aplicar esse tarifário ao caso concreto, porque iríamos baixar a facturação ao Cliente em mais de 20%". Resultado: passou a estar em causa a mudança de operador, com um prejuízo para a Vodafone de... 100%.
5. "Não poderíamos aplicar esse tarifário em todas as empresas, porque a nossa facturação anual cairia mais de 20%, o que seria inaceitável para os accionistas". É muito difícil responder a este argumento, por ser tão absurdo. Esta é uma política digna do meu prezado Metropolitano de Lisboa, onde se aumentam os preços para fazer face aos prejuízos, sem qualquer preocupação em cortar custos excessivos ou supérfluos. Ou alguém, accionista ou não da Vodafone, acredita que esta é uma empresa onde não há espaço para melhorar, ao nível do controlo de custos?

Declaração de (des)interesses:

Não tenho (nem estou a pensar comprar) acções da Vodafone, TMN ou Optimus. Ou da Sonae, já agora. Nem trabalho para nenhuma delas, directa ou indirectamente.

Declaração de interesses:

Tenho um telefone giro da Vodafone.

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