14 de outubro de 2005
Vida, Défice, Sampaio
Simples silogismo aristotélico:
Se "Há vida para além do Défice" (Sampaio)
e, é a vida, haverá "Défice para além de Sampaio", então:
Há vida para além de Sampaio. E eu estou com défice de paciência de esperar.
11 de outubro de 2005
Genius illuminatus
Eis que um artigo que acabo de ler, de António Borges, me leva de novo à escrita.
Concretizou-se a minha principal projecção relativa às autárquicas: os comentadores que opinam sobre a maturidade política do povo em geral, mas com sinais de clara imaturidade aqui (Oeiras) e ali (Felgueiras) e acolá (Gondomar).
Cito António Borges: "(...) Não só estes candidatos venceram, serviram-se também das suas vitórias para atacarem a democracia portuguesa (...) Não se pode culpar só os eleitores(...)".
Não se pode culpar SÓ os eleitores, donde, pode-se/deve-se culpar (sobretudo?) os eleitores. Parece que a culpa anda à solta, mas felizmente é um mal que só acontece aos outros, conforme se deduz pelo artigo de opinião deste verdadeiro génio iluminado. Imagino que o discurso pudesse ser algo alterado, caso fosse o Dr. António Borges a ser alvo de uma infame e caluniosa acusação de uma qualquer índole.
Se a moda pega, a um ano das próximas eleições alguém lançará suspeitas de qualquer índole sobre Rui Rio, Moita Flores, Fernando Seara, Carmona Rodrigues, Alberto João Jardim e outros. Enquanto se espera que a Justiça actue, o PSD decide não os apoiar. Fará isto algum sentido? Não creio.
Acho que está na hora de alguém tirar a venda dos olhos à Justiça, e colocá-la na boca de certos comentadores. Como eu, talvez! :-)
Quero começar por referir que, na minha ignorância sobre leis, começaria por distinguir o caso do Dr. Avelino Ferreira Torres, pelo facto de este ter já sido condenado (terá recorrido da sentença, pelo que poderá ainda vir a ser ilibado por um tribunal de instância superior). Ainda assim, uma condenação por um tribunal parece-me mais "impressionante" do que uma acusação (ou o mero facto de se ter sido constituído arguido, situação em que nem sequer existe uma acusação formalizada).
Já no caso da Dra Fátima Felgueiras, para mim não está em causa o ter fugido durante dois anos a uma medida de coacção. Simplesmente, sou demasiado invejoso para respeitar alguém que passou dois anos no Rio de Janeiro, na boa vida, e de lá voltou com aquele glorioso bronzeado. Só de olhar, fico azul. Não há saco!
Assim, os meus comentários reportam-se a Oeiras e Gondomar. Em ambos os casos, temos dois arguidos que nem tão pouco estão acusados. E no caso de Gondomar o processo tão pouco terá a ver com a vida autárquica, mas com a sua estada à frente do Boavista.
Contraditoriamente, vários candidatos menos mediáticos foram apoiados pelo partido, não obstante sobre eles recairem acusações ou suspeições, nalguns casos de ilícitos que teriam sido praticados no âmbito das suas funções enquanto autarcas.
Parece-me pois que há um juizo à partida sobre quem é merecedor e quem não é merecedor, o que me parece totalmente inaceitável.
Cá por mim, no meu ingénuo entendimento sobre as leis, ser-se inocente até prova em contrário, ou ter-se a presunção da inocência, deveria significar que se mantêm intocados, ou perto disso, os direitos de cidadania. A alternativa é ter um sistema judicial que julgue em tempo útil, o que parece não ser o caso. Ninguém deve ser obrigado a esperar, de braços cruzados, por uma justiça que demora anos a produzir uma acusação. Ou não demora tanto tempo, ou não se obriga o cidadão a esperar de braços cruzados.
Democracia significa Governo do povo. Logo, por definição, quem diz que o povo se enganou não tem espírito democrático. Nalguns casos terá também mau perder.
9 de outubro de 2005
Sabedoria popular e falta de cultura democrática
Durante muitos anos, habituámo-nos a ouvir comentadores e políticos, comentando resultados de eleições, falar na sabedoria popular, e em coisas tão extraordinárias como que "o povo deu-me maioria para governar, mas não me deu maioria absoluta, para me indicar que deveria dialogar com as outras forças políticas". Ora eu lembro-me bem de ter votado nessas eleições, e afianço-vos que apenas se podia votar num partido, não sendo possível indicar coisas tão extraordinárias como a atrás mencionada.
Existe pois uma álgebra político-eleitoral que, apimentada com uma certa dose de semântica, determina que a soma de todas as cruzes colocadas nos boletins pode ser lida do modo que se quiser. É pois perfeitamente válido para muitos políticos e comentadores que existe uma espécie de "sabedoria colectiva", que por acaso corresponde à soma dos votos de cada indivíduo. A última vez que observei tal tipo de sabedoria colectiva foi naqueles bonequitos verdes com três olhos do Toy Story.
A visão é de um povo (somatório de pessoas individuais) que raramente tem dúvidas e que nunca se engana, apesar de cada uma das pessoas que dele fazem parte ter dúvidas sistemáticas e viver enganado (basta ver que o SLB tem 8 milhões de adeptos).
Agora, com os autarcas-bandidos, a coisa é muito engraçada. De repende, comentadores e políticos descobriram que afinal, o povo não é soberano, não sabe o que quer e também se engana.
Enquanto o "povo" votava de um modo perfeitamente previsível, mais alternância ou menos maioria, tinha razão. De repente, perdeu-a. Acontece.
Cá por mim, penso que seria mais sério fazer uma leitura despida de preconceitos. Talvez porque sou ingénuo, gostaria de pensar que se é de facto inocente até ser condenado por uma sentença transitada em julgado, ie, inapelável. Assim, bandidos são os que foram condenados, não os que estão acusados. Prefiro viver num país em que se é inocente até prova em contrário, e não num país em que se é culpado até prova em contrário. Acusar alguém não custa, e o que não custa tem pouco valor.
Mas dando de barato que os ditos senhores e senhora roubaram, pilharam, chantagearam, branquearam (ou azularam), tudo a coberto de um mandado popular...
Porque é que o mesmo povo que os elegeu se propõe agora apostar no(s) mesmo(s) cavalo(s)? Cá por mim, que por acaso não voto nem em Oeiras, nem em Gondomar, nem em Amarante e nem em Felgueiras, a coisa é explicável de uma forma simples: "dos males, o menor".
Entre um político "bandido" e um político incompetente, a maioria das pessoas prefere o "bandido", por ser um mal menor. Cá para mim, estas eleições mostrarão não a ignorância de um povo, mas o desespero de um povo.
Diz-se agora que votar nestes candidatos é um sinal do fracasso de 30 anos de democracia. Fracasso é só um em cada três eleitores votarem de facto. No momento do voto, o eleitor não indica se quer que A, B ou C tenha maiorias absolutas, ou se quer que D seja o maior partido da oposição. Pode no entanto votar em branco, nulo ou em qualquer outro candidato. Estas são as regras da democracia. Regras estas que pelos vistos incomodam comentadores e políticos, que de repente descobriram que o povo tem pouca cultura democrática. Falta de cultura democrática é não aceitar a vontade do povo, conforme comentadores e políticos agora querem fazer.
Uma citação atribuída a Sir Winston Churchill, para terminar:
It is a fine thing to be honest, but it is also very important to be right.
Existe pois uma álgebra político-eleitoral que, apimentada com uma certa dose de semântica, determina que a soma de todas as cruzes colocadas nos boletins pode ser lida do modo que se quiser. É pois perfeitamente válido para muitos políticos e comentadores que existe uma espécie de "sabedoria colectiva", que por acaso corresponde à soma dos votos de cada indivíduo. A última vez que observei tal tipo de sabedoria colectiva foi naqueles bonequitos verdes com três olhos do Toy Story.
A visão é de um povo (somatório de pessoas individuais) que raramente tem dúvidas e que nunca se engana, apesar de cada uma das pessoas que dele fazem parte ter dúvidas sistemáticas e viver enganado (basta ver que o SLB tem 8 milhões de adeptos).
Agora, com os autarcas-bandidos, a coisa é muito engraçada. De repende, comentadores e políticos descobriram que afinal, o povo não é soberano, não sabe o que quer e também se engana.
Enquanto o "povo" votava de um modo perfeitamente previsível, mais alternância ou menos maioria, tinha razão. De repente, perdeu-a. Acontece.
Cá por mim, penso que seria mais sério fazer uma leitura despida de preconceitos. Talvez porque sou ingénuo, gostaria de pensar que se é de facto inocente até ser condenado por uma sentença transitada em julgado, ie, inapelável. Assim, bandidos são os que foram condenados, não os que estão acusados. Prefiro viver num país em que se é inocente até prova em contrário, e não num país em que se é culpado até prova em contrário. Acusar alguém não custa, e o que não custa tem pouco valor.
Mas dando de barato que os ditos senhores e senhora roubaram, pilharam, chantagearam, branquearam (ou azularam), tudo a coberto de um mandado popular...
Porque é que o mesmo povo que os elegeu se propõe agora apostar no(s) mesmo(s) cavalo(s)? Cá por mim, que por acaso não voto nem em Oeiras, nem em Gondomar, nem em Amarante e nem em Felgueiras, a coisa é explicável de uma forma simples: "dos males, o menor".
Entre um político "bandido" e um político incompetente, a maioria das pessoas prefere o "bandido", por ser um mal menor. Cá para mim, estas eleições mostrarão não a ignorância de um povo, mas o desespero de um povo.
Diz-se agora que votar nestes candidatos é um sinal do fracasso de 30 anos de democracia. Fracasso é só um em cada três eleitores votarem de facto. No momento do voto, o eleitor não indica se quer que A, B ou C tenha maiorias absolutas, ou se quer que D seja o maior partido da oposição. Pode no entanto votar em branco, nulo ou em qualquer outro candidato. Estas são as regras da democracia. Regras estas que pelos vistos incomodam comentadores e políticos, que de repente descobriram que o povo tem pouca cultura democrática. Falta de cultura democrática é não aceitar a vontade do povo, conforme comentadores e políticos agora querem fazer.
Uma citação atribuída a Sir Winston Churchill, para terminar:
It is a fine thing to be honest, but it is also very important to be right.
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