11 de outubro de 2005
Genius illuminatus
Eis que um artigo que acabo de ler, de António Borges, me leva de novo à escrita.
Concretizou-se a minha principal projecção relativa às autárquicas: os comentadores que opinam sobre a maturidade política do povo em geral, mas com sinais de clara imaturidade aqui (Oeiras) e ali (Felgueiras) e acolá (Gondomar).
Cito António Borges: "(...) Não só estes candidatos venceram, serviram-se também das suas vitórias para atacarem a democracia portuguesa (...) Não se pode culpar só os eleitores(...)".
Não se pode culpar SÓ os eleitores, donde, pode-se/deve-se culpar (sobretudo?) os eleitores. Parece que a culpa anda à solta, mas felizmente é um mal que só acontece aos outros, conforme se deduz pelo artigo de opinião deste verdadeiro génio iluminado. Imagino que o discurso pudesse ser algo alterado, caso fosse o Dr. António Borges a ser alvo de uma infame e caluniosa acusação de uma qualquer índole.
Se a moda pega, a um ano das próximas eleições alguém lançará suspeitas de qualquer índole sobre Rui Rio, Moita Flores, Fernando Seara, Carmona Rodrigues, Alberto João Jardim e outros. Enquanto se espera que a Justiça actue, o PSD decide não os apoiar. Fará isto algum sentido? Não creio.
Acho que está na hora de alguém tirar a venda dos olhos à Justiça, e colocá-la na boca de certos comentadores. Como eu, talvez! :-)
Quero começar por referir que, na minha ignorância sobre leis, começaria por distinguir o caso do Dr. Avelino Ferreira Torres, pelo facto de este ter já sido condenado (terá recorrido da sentença, pelo que poderá ainda vir a ser ilibado por um tribunal de instância superior). Ainda assim, uma condenação por um tribunal parece-me mais "impressionante" do que uma acusação (ou o mero facto de se ter sido constituído arguido, situação em que nem sequer existe uma acusação formalizada).
Já no caso da Dra Fátima Felgueiras, para mim não está em causa o ter fugido durante dois anos a uma medida de coacção. Simplesmente, sou demasiado invejoso para respeitar alguém que passou dois anos no Rio de Janeiro, na boa vida, e de lá voltou com aquele glorioso bronzeado. Só de olhar, fico azul. Não há saco!
Assim, os meus comentários reportam-se a Oeiras e Gondomar. Em ambos os casos, temos dois arguidos que nem tão pouco estão acusados. E no caso de Gondomar o processo tão pouco terá a ver com a vida autárquica, mas com a sua estada à frente do Boavista.
Contraditoriamente, vários candidatos menos mediáticos foram apoiados pelo partido, não obstante sobre eles recairem acusações ou suspeições, nalguns casos de ilícitos que teriam sido praticados no âmbito das suas funções enquanto autarcas.
Parece-me pois que há um juizo à partida sobre quem é merecedor e quem não é merecedor, o que me parece totalmente inaceitável.
Cá por mim, no meu ingénuo entendimento sobre as leis, ser-se inocente até prova em contrário, ou ter-se a presunção da inocência, deveria significar que se mantêm intocados, ou perto disso, os direitos de cidadania. A alternativa é ter um sistema judicial que julgue em tempo útil, o que parece não ser o caso. Ninguém deve ser obrigado a esperar, de braços cruzados, por uma justiça que demora anos a produzir uma acusação. Ou não demora tanto tempo, ou não se obriga o cidadão a esperar de braços cruzados.
Democracia significa Governo do povo. Logo, por definição, quem diz que o povo se enganou não tem espírito democrático. Nalguns casos terá também mau perder.
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