18 de novembro de 2005

Políticos baratos ou Palhaços caros?

Há muito tempo que defendo que, para assegurar a qualidade da classe política, os políticos com responsabilidade efectiva (ministros, deputados, presidentes de câmara, etc) deviam ser pagos a preços de mercado, em função do respectivo custo de oportunidade.

Talvez António Carrapatoso aceite um dia ser Ministro do Trabalho ou da Educação. Ora, para o fazer, terá necessariamente aceitar uma redução brutal no seu rendimento. Logo, há um forte incentivo para que os maus políticos afastem os bons políticos, já que os primeiros não têm grandes oportunidades de trabalhar numa economia aberta, concorrencial e competitiva, pelo que o salário de ministro para eles é aceitável.

Curiosamente, o grande homem de estado que apresentou esta teoria num timing perfeitamente casual, pretende agora substituir um mau político. Será que pela primeira vez se enganou? Será que na opinião de Cavaco, vai haver um "bom político" a expulsar um "mau político"? Fica a questão.

Ora dizia eu que sempre achei razoável que quem gere um orçamento de milhões de euros dos contribuintes tenha uma remuneração minimamente comparável a quem gere milhões de euros de accionistas. Ontem, esta minha convicção foi abalada, ao ouvir a parte final da troca de atuardas entre o Ministro das Finanças e um deputado do PCP, sobre a doçura das amêndoas que um iria oferecer ao outro. Ou sobre se o pão de ló que o outro iria oferecer ao um era "daqueles húmidos, que são os que eu gosto mais". Fiquei a pensar se aqueles dois senhores serão políticos razoavelmente mal pagos ou se, pelo contrário, serão palhaços razoavelmente bem pagos.

Quanto aos deputados do Partido Comunista, a verdade é que sinto por eles a nostalgia que sinto pelos animais em vias de extinção. E ninguém os leva (muito) a sério.

Já um ministro das finanças que não se dá ao respeito, e que brinca e se diverte com este tipo de baboseiras, devia ir comer pão de ló pago por alguém que não o desgraçado do contribuinte. O orçamento de estado, pelos vistos, não é um tema difícil da governação, mas um pretexto para fazer apostas. Infelizmente, estes são os temas que não preocupam Jorge Sampaio, que tão activo tem andado no seu último fôlego.

17 de novembro de 2005

Presidende Jurássico

Vou tentar escrever este post no maior respeito pelo preceito que diz que não é bonito gozar com os velhinhos. De resto, a lei prevê uma idade mínima para ser Presidente da República, mas não prevê uma idade máxima. Cada país tem o presidente que merece.

Quanto a Soares, não é segredo: ele é o seu próprio pior inimigo.
"Everyone is entitled to be stupid, but man, you're abusing that privilege."

Um candidato que diz que apresenta o seu boletim de saúde se os outros o fizerem, e que refere constantemente que está de boa saúde, faz-me lembrar o treinador Peseiro quando dizia que "ainda tinha espaço de manobra", "ainda tinha crédito". Quem discute se tem crédito ou espaço de manobra para trabalhar, é porque já não os tem. Quem pretende uma apresentação pública de boletins de saúde, do tipo "eu mostro o meu, se tu mostrares o teu", está gagá.

Admito que parte disto possa ser inveja, pois não sei se viverei até aos 80 anos, ainda por mais mantendo a próstata em bom funcionamento (ainda que com muito cheiro a queimado vindo dos fusíveis).

A campanha de Cavaco começou, como é sabido, muito antes da de Soares (só este último parece não ver isso). Cavaco tem seguido o conselho de Napoleão Bonaparte: "Never interrupt your enemy when he is making a mistake."

A campanha presidencial de Cavaco começou no dia em que disse, pela primeira vez, que não fazia comentários sobre as presidenciais. Mas o verdadeiro arranque verificou-se quando aproveitou as legislativas que Sampaio ofereceu ao PS, como todos perceberam, mas que também ofereceu a Cavaco.

Qual era o cenário mais vantajoso para Cavaco, o candidato a presidente? Evidentemente, ter um governo de esquerda, não de direita. Evidentemente, ter um governo em início de mandato, quando as medidas difíceis são aplicadas, e não um governo em fim de mandato, quando o apelo à eleição seguinte manda afrouxar o cinto. Um governo de esquerda e com maioria absoluta? Isso seria bom de mais para ser verdade.

O que é que se passou? Alguns artigos cirúrgicos publicados, apertando o espaço de manobra de Santana Lopes, ainda antes das legislativas. Depois, aquilo a que alguém chamou "Um silêncio ensurdecedor", quebrado apenas para manifestar a sua revolta sobre a inclusão das sua foto num cartaz do PSD, com o argumento de que isso prejudicava a sua carreira académica. Argumento tão fraquinho, que é de facto ofensivo. Ou haverá quem, na Universidade Católica, desconheça que ele foi Primeiro-Ministro durante 10 anos? E que foi militante e secretário-geral do PSD? Cá por mim, penso que Santana Lopes devia ter mantido o cartaz. Quem lá estava, estava por ser ex-dirigente do PSD, e independentemente da sua ambição futura.

A melhor razão, talvez a única razão, para votar Cavaco é evidentemente o medo, o pânico, de ter Soareossauro como Presidente.

Cá por mim, que sempre votei na direita, parece-me claro que não vou votar em Cavaco, e seguramente que não vou votar no Soareossauro.

A minha primeira escolha é Manuel João Vieira:
http://www.vieira2006.com/

Em alternativa, talvez acabe por votar no Candidato Alegre. Parece-me o mais merecedor do meu voto.

Dedico por fim aos vários candidatos presidenciais o seguinte trecho:

There's a passage I got memorized, seems appropriate for this situation: Ezekiel 25:17.
"The path of the righteous man is beset on all sides by the inequities of the selfish and the tyranny of evil men.
Blessed is he who, in the name of charity and good will, shepherds the weak through the valley of darkness, for he is truly his brother's keeper and the finder of lost children.
And I will strike down upon thee with great vengeance and furious anger those who attempt to poison and destroy my brothers.
And you will know my name is the Lord when I lay my vengeance upon you."