1 de julho de 2007

Católica, ma non troppo (2)

Se o post abaixo é um thumbs up, este é um thumbs down (não à Igreja de Deus, mas à Igreja dos homens)

A Carolina frequentou entre o 1 ano e os 5 anos de idade uma creche/jardim de infância que funciona integrado numa Igreja. No último ano, as coisas correram mal. A professora teve um esgotamento, e esteve de baixa quase desde o início do ano. Os pequenos estiveram sem professora (tinham uma auxiliar) a acompanhá-los quase até ao fim do ano (2-3 meses antes, entrou uma nova professora para cumprir o resto do ano). Pusémos a hipótese de a Carolina continuar lá, na expectativa de que seria acompanhada pela professora que entretanto ia regressar mas, não havendo absoluta certeza sobre se voltaria, optámos por inscrevê-la no pré-escolar da escola primária que irá frequentar. A responsável da escola desaconselhou-o, porque "A Carolina é muito sensível, vai sentir muito a mudança e vai ter dificuldade em adaptar-se. Mas vocês é que sabem." Ora este argumento "liquidou" qualquer hipótese de a Carolina lá ficar. Se tem dificuldades em adaptar-se, mais vale que mude já: muitos dos colegas sabíamos que iam sair, não tínhamos a confirmação de que a professora fosse a que queríamos (e de facto não foi) e, se ia haver dificuldade na adaptação (que nunca nos pareceu que fosse o caso) mais valia que não fosse na primeira classe, mas antes. Como tantas vezes verificámos, o que aconteceu foi bem diferente do que a directora nos tinha dito. A Carolina adaptou-se lindamente, e ao Sábado e Domingo às vezes até refila porque... quer ir para a escola!

Este ano lectivo (Set/2006) a professora de facto voltou, mas para acompanhar os meninos dos 2 anos, pelo que acabou por ser professora do Ricardo. Sempre conseguiu lidar com ele de uma forma que nós admirámos (talvez seja mais correcto dizer que invejámos...), num equilíbrio de meiguice com autoridade que a nós quase sempre nos escapa.

Em Março, soubémos que a Professora em causa iria sair da escola, no final do mês, por se ter incompatibilizado com a direcção. Após conversar com os pais, a professora disponibilizou-se acompanhar os meninos até ao fim do ano, ou pelo menos para acompanhar a transição para a nova professora. Tudo isso foi recusado pela direcção. Os pais foram falar com o prior da paróquia, que geriu a crise com grande mestria, de uma forma que só consigo classificar como hipócrita. Perante várias contradições apontadas e perante alguns cenários propostos que tentavam fazer uma transição suave, a bem das crianças, o prior assumiu uma postura do tipo "Estão a insinuar que eu não quero o melhor para as crianças?", chantagens como "Isto para nós é um grande esforço; se isto nos traz tantos problemas vamos ter que encerrar a escola." ou outras do tipo "Vocês não percebem isso porque não têm alguma informação que eu tenho mas não posso divulgar." No meio de tanta gestão da comunicação, ao nível do que de melhor José Sócrates poderia fazer, um ou dois pais ficaram convencidos; os outros continuaram no seu estado de revolta. Não tendo nós na altura alternativas, optámos por deixá-lo continuar. O Ricardo regrediu em vários aspectos, como quase todos os outros miúdos, conforme nós receávamos e avisámos o prior. Os que sempre quiseram ir para a escola, deixaram de querer. No caso do Ricardo, regrediu nos chi-chis de noite, no vestir-se e no comer, coisas que começava a fazer sozinho.

Pelo meio, a avaliação das crianças feita pela antiga professora não nos foi entregue, sendo que nos é prometida agora uma avaliação, feita pela professora que os acompanhou (apenas) desde Abril. Soubémos entretanto por outros pais que no Jardim Infantil é prática corrente os miúdos serem postos de castigo (fora da sala ou no jardim, de pé e de frente para o muro) e vivem num pânico permanente com esses castigos. O Ricardo, traquina como é, ia ter lugar cativo junto ao muro.

Este ano, claro, vai sair. Há duas opções, cada uma com os seus prós e contras, mas ambas serão seguramente muito melhores. É que, infelizmente, nem em toda a Igreja é evidente o espírito do "Deixai vir a mim as crianças."

3 comentários:

Unknown disse...

A Igreja de Deus está em todos os Homens. A igreja dos homens está nas igrejas dos homens.

Anónimo disse...

O herrpedro está inspirado! Concordo plenamente.

Gonçalo Taipa Teixeira disse...

O problema é que alguns desses priores que acham que por o serem estão acima de qualquer suspeita de falibilidade. São humanos, como eu.