21 de novembro de 2005

Frio nos miolos

O meu artigo a criticar Cavaco Silva mereceu uma cuidada resposta, no Nevsky Prospekt, por parte do jts. No seu estilo de homem íntegro e emotivo, respondeu a quente (o que deve ser difícil, considerando o local onde se encontra).

  • Quanto às autárquicas, estamos a falar de candidatos constituídos arguidos, sobre os quais não recai ainda, que eu saiba, acusação. Só depois da acusação pode haver julgamento, só depois pode haver defesa, só depois pode haver condenação (ou absolvição). Parece-me a mim, que pouco ou nada percebo de leis, que a presunção da inocência é um dos pilares do sistema jurídico.

  • Sobre estes ex-candidatos, actuais autarcas, recai a suspeita (não provada) de se terem aproveitado de dinheiros da autarquia, logo, dos contribuintes. A minha desilusão com a política leva-me a suspeitar que uma apurada investigação numa qualquer câmara do país identificaria sempre algum tipo de prática situada entre o menos correcto e o ilícito.

  • Logo, não tenho razões para acreditar que se candidata contra os "bandidos" não seja também bandido. Estatisticamente, suponho mesmo que o seja.

  • Estamos a comparar competência objectiva (mais ou menos) com honestidade subjectiva. Digo isto porque ninguém discute a competência de Isaltino, que eu saiba (basta ver a campanha dos outros dois candidatos), só a sua honestidade. Logo, temos a CERTEZA de competência contra a SUSPEITA de desonestidade. Isto é como comparar uma tartaruga com um caracol! :-)

  • Ao contrário do jts, não sei o que levou as pessoas a decidir. Pode ter sido uma avaliação do passado, pode ter sido a expectativa quanto ao futuro. Ou pode ter sido outro critério qualquer.

  • O argumento quanto às presidenciais é válido. De facto, em coerência, eu devia apoiar Cavaco, considerando-o o mal menor. Tal como jts devia votar em branco, considerando que está farto de votar no mal menor, ie, de votar por exclusão de partes. A razão pela qual tanto me custa é que, sendo eu um habitual apoiante do PSD, ainda que não seja nem nunca tenha sido filiado, sempre tive Cavaco Silva e outros "grandes" do partido na mais alta conta. Durante o brevíssimo estágio de Santana Lopes, só Marques Mendes mostrou ser um homem de grande estatura, ao defrontar e confrontar aberta e publicamente Santana Lopes, em congresso. O meu não-apoio a Cavaco Silva é pois fruto da desilusão quanto ao seu comportamento, para mim inaceitável, nos últimos 2 anos.

  • Quanto ao tipo de PR que Portugal precisa, não sei, mas sei que tipo de PR a constituição prevê: Promulgação de leis, passeios pelos PALOP, fiscalização da constitucionalidade de diplomas, passeios de tartaruga nas Seychelles (levando um avião cheio com o seu séquito), bocas nos meios de comunicação social. Enfim, o costume.

  • Quanto aos fait-divers e ao acessório, não são importantes em si. Podem sê-lo, enquanto sinais exteriores demonstrativos de estados de espírito, carácter, seriedade, etc

  • Quanto a quem vai ganhar, não me parece que as coisas estejam fechadas. Parece-me, isso sim, que Cavaco ou ganha na primeira volta ou perde na segunda. A haver segunda volta, espero que seja contra Manuel João Vieira mas, a não ser possível, este laranginha por tradição também aceitará apoiar Manuel Alegre. Quanto a Cavaco... Só mesmo Soares me levará a votar nele.


    Dizia alguém, e eu concordo, que estas eleições são o melhor argumento pró-monarquia que surgiu nos últimos 30 anos.


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