14 de março de 2006

OPA, lá-lá ou Takeovers for dummies



Com ar sério e erudito, comentadores políticos têm vindo à televisão dizer bujardas acerca da OPA sobre a PT e agora da OPA sobre o BPI. A coisa já é quase tão ridícula como as asneiras ditas sobre um ficheiro de Excel com filtros, no caso do envelope 9. Só que neste último caso estão em causa as chamadas feitas à custa do erário público (mas cuja informação não pode, de todo, chegar ao público que as pagou) enquanto que no caso das OPA a situação é mais relevante.
Vou pois prestar serviço público de excelência e esclarecer algumas ideias.

Os porcos e a hostilidade


Hoje fui comprar porcos. Perguntei quanto custavam, ofereci mais 20% do que o custo, e comprei-os todos. O dono da pocilga esfregou as mãos de contente. Vendeu-me os porcos e ofereceu-me o capataz, que eu despedi. O capataz, que tinha aconselhado o dono a não vender, até porque nos próximos anos os porcos iam trazer dividendos fabulosos, acusou-me de ter feito uma compra hostil.
Em vez de "porcos", leiam "acções". Em vez de "dono", leiam "accionistas" e, em vez de capataz, leiam "conselho de administração em funções".

Comprar pocilgas bem geridas


Outra das ideias é a de que o BPI é apetecível, porque está bem gerido e está a dar bom dinheiro. Confusão!
Se está a ser bem gerido, para quê alterar a gestão? Nesse caso, apenas interessa adquirir acções, e lucrar por via de dividendos ou de valorização do título. Ou, melhor ainda, fazer uma troca de acções (aquilo a que alguns chamam uma OPA amigável, porque no fim vão todos juntos para os copos).
A OPA é uma aquisição do controlo da empresa e, tipicamente (mas não necessariamente), implica mudar a administração. Ora, se a administração está a fazer um bom trabalho, para quê mudá-la?
Algumas razões são possíveis:
1. Apesar de tudo, achar que é possível ter uma administração que é ainda melhor (a EDP deu mil milhões de euros de lucros. Mas não poderia ter dado o dobro?).
2. Pretender alterar um equilíbrio de mercado ou tentar obter sinergias (ganhar economias de escala, por exemplo). Quando apenas se quer engordar o porco, ie, quando não há razões estratégicas para a aquisição, usam-se as sinergias como pretexto, nem sempre válido. No caso do BPI, Paulo Teixeira Pinto diz que há o objectivo de ganhar escala a nível internacional.
No caso da OPA sobre a PT, parece que ambas as justificações são válidas, do ponto de vista da Sonae.

OPA como forma de aumento da concorrência


Se havia três pocilgas a vender porcos e passa a haver duas, será que há mais concorrência? Hello!!! Anybody home??

Empresa pouco endividada está mais segura


Uma empresa endividada representa maior risco para quem a compra. Uma empresa pouco endividada pode ser usada, ela própria, como garantia sobre a operação.
João quer comprar a pocilga de Rita, mas não tem pais ricos nem lhe saíu o Euromilhões. Vai ao BES e pede dinheiro, dando como garantia a própria pocilga que está a comprar!
Havia nos EUA uns senhores que eram conhecidos precisamente por este tipo de operação, com elevada alavancagem.

2 comentários:

Aves Raras disse...

Modern Portfolio Theory: An Overview.

Gonçalo Taipa Teixeira disse...

Para mim, o conceito que mais me faz confusão é o de "OPA hostil". Se eu vender os meus "porcos", decerto que não os vendo com uma pistola apontada à cabeça...