7 de janeiro de 2006

Como eu fui esfaqueado em público


Cena 1 - Introdução
Fui recentemente persuadido a consultar um dermatologista, no sentido de averiguar se algum dos muitos sinais que tenho na pele seria dos tais nefastos, perigosos. Porque estas coisas, ao que parece, quanto mais cedo melhor, lá marquei eu consulta para um médico particular.

Cena 2 - O diagnóstico
Após verificação razoavelmente exaustiva, o médico indicou-me que havia um sinal nas costas que deveria ser retirado e analisado. Explicou que não é que fosse daqueles que era mesmo urgente, urgente tirar, mas que ele à vista desarmada tinha achado que era de tirar, e a máquina dizia que estava entre o sim e o não. Que eu não devia ficar preocupado, mas aquilo não custava nada e mais valia tirar do que deixar ficar.
Pareceu-me estranho o esforço de justificação por parte do médico, mas acatei. Saí da consulta e marquei para daí a 15 dias a intervenção.

Cena 3 - A dúvida
Fiquei de facto pouco convencido, e resolvi fazer uma pequena sondagem de opinião. Entre acusações (perfeitamente justas) de "maricas, estás é com medo" e outras do género, a minha dúvida não ficou apaziguada.
Recorri a um médico amigo, que tenho por muito competente, para me dar a desejada segunda opinião.
Ora o primeiro comentário dele foi: "pois, eu sei que os dermatologistas gostam muito de tirar sinais". Compreenderão que esta não é a minha principal motivação para tirar um sinal. Lá que ele goste, é com ele; a mim, não me apetecia nada!
Por se tratar de um sinal nas costas, não consegui dizer a este médico meu amigo qual era. De qualquer modo, fiquei convencido a tirá-lo, face à expectativa de que poderia haver algum sinal com tendência para dar para o torto, e sendo retirado ficava o caso resolvido.

Cena 4 - A facada nas costas
No dia combinado, dirigi-me ao Hospital para tirar então o referido sinal. Perante o grande aparato médico: "dispa-se, vista esta bata, coloque esta touca e deite-se na marquesa" eu, a medo (muito medo!), tratei de me deitar e preparar (sobretudo psicologicamente) para o que na verdade é uma microcirurgia muito simples.

Chegado à sala de operações, para meu grande espanto, pergunta-me o médico, olhando para as minhas costas: "Qual é que é o sinal que vem tirar?"

Fiquei sem saber o que responder. Disse-lhe que não fazia ideia: na altura o médico indicou-me, mas convenhamos que não é muito viável identificar um sinal que fica na parte de trás das costas...

Após um primeiro momento de impasse, breve, o médico lá indicou "É este; é este o sinal". Anestesia, bisturi, mais bisturi, pontos e penso. E está tirado o sinal, numa operação que se espera tenha sido ditada vagamente pela necessidade, não por qualquer outro critério.


Cena 5 - Epílogo
Passaram 3 semanas, e não me disseram mais nada. Supostamente, a haver "crise" teria sido contactado ao fim de duas, pelo que parece que a coisa não era dramática.
Médicos há-os bons e maus. Como em todas as outras profissões. Também os Clientes (neste caso eu) podem por vezes levantar testemunhos completamente injustos e infundados. Uma coisa, o médico conseguiu: que eu passasse o Natal e o Reveillon sem grandes preocupações...

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